Daniele com as gatinhas que adotou:
"Me apaixonei pelas duas"
ADOÇÃO EXIGE CUIDADOS
A professora Nilva Maria Freres Mascarenhas, do Departamento de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina (UEL), lembra que a adoção de animais é recomendada, mas alerta para os cuidados que devem ser tomados. "Animais recolhidos nas ruas podem representar um perigo para a família, pois podem estar doentes e transmitir para às pessoas desde uma doença de pele ou uma veminose e até mesmo uma zoonose, que é uma doença transmitida dos animais para o homem e vice-versa". Como exemplos de zoonozes, ela cita a raiva, a leptospirose e a toxoplasmose, entre outras, e que podem inclusive levar à morte.
Segundo a docente, quando se recolhe um animal de rua é muito importante ter noção de guarda responsável: "Trata-se de um novo membro da família, com sentimentos, com o qual serão compartilhadas alegrias e tristezas, e que merecem todo o respeito e cuidados". Nilva recomenda que o animal seja levado ao veterinário, que fará inicialmente um exame físico e exames laboratoriais e complementares, quando necessário, emitindo um parecer sobre seu estado de saúde. É o veterinário quem vai administrar as vacinas e vermífugos necessários, orientando sobre alimentação e manejo adequados.
Nilva, que desde de 1996 trabalha no projeto "Controle de natalidade de cães e gatos em Londrina e região: um exercício de bem-estar animal, saúde pública e ensino-aprendizagem", defende a esterilização (geralmente a cirúrgica), como medida de controle populacional. Assim, diz ela, evitam-se transtornos com o cio e posteriormente desenvolvimento de infecções e tumores. "A esterilização também possibilita a diminuição de animais errantes e eutanásia, ao mesmo tempo que colabora para a diminuição da disseminação de doenças infectocontagiosas entre os animais e o risco de zoonoses", afirma. Ela lembra, porém, que não bastam a adoção e esterilização cirúrgica para diminuir o número de animais abandonados. "Faz-se necessária uma verdadeira mudança de cultura, com a valorização e respeito à vida dos animais".
"Vejo muitos animais abandonados,
mas não tenho condições de
trazer todos para casa", diz Alana,
que já recolheu 8 cães e 4 gatos. Hellen queria uma fêmea mas não resistiu
ao comportamento dócil do pequeno macho
DAS RUAS PARA O ACONCHEGO DE UM LAREm vez de comprar, recolher um animal em situação de risco; é assim que muitos escolhem seu bicho de estimação
Daniele procurava por uma cachorrinha, mas se encantou com duas gatinhas e resolveu levá-las para casa. Helen estava atrás de uma fêmea para chamar de Valentina, mas não resistiu ao comportamento dócil do pequeno macho, que todo prosa no colo da estudante foi batizado de Valentino. A atendente Daniele Marques Machado e a estudante Helen Kawlyne Fernandes fazem parte de um grupo consciente, mais preocupado em amar e ser amado por seu bicho de estimação do que escolher entre uma ou outra raça da moda. Hoje elas vivem com novos companheiros em casa, escolhidos pelo simples critério de empatia em uma feira de animais realizada pelo Grupo de Apoio à Proteção Animal para Londrina e Região (GAP/PR).
O comportamento de Daniele e Helen é uma esperança de que um dia haja solução para o grave problema do abandono de animais. Segundo levantamento feito pela Secretaria Municipal do Ambiente (SEMA), acerca de três anos, existem de 30 mil a 35 mil abandonados e semidomiciliados (que passam o dia pelas ruas, sob o risco de contaminação por doenças, atropelamento e prenhez indesejada) na cidade. Só para se ter uma ideia, a ONG SOS Vida Animal recebe em média 50 ligações por dia, de pessoas querendo se desfazer de animais ou informando sobre atropelamento e maus-tratos. "Mas como não temos estrutura suficiente, só conseguimos atender os casos mais urgentes, que são também os de recuperação mais difícil e cara", informa a presidente da SOS, Marianna Nogueira.
O GAP, que surgiu mais recentemente, também não possui um local para abrigar os animais que precisam de um lar, mas divulga, via internet, campanhas para viabilizar tratamentos médicos, arrecadação de alimentos e feiras de adoção, além de apoiar protetores de toda a região. "Nossa principal carência continua sendo encontrar voluntários que estejam dispostos a fornecer lar temporário ou adotar animais independentemente da idade e raça", revela Fernanda Torres, colaboradora do grupo.
Entre os bichos que deram a sorte de encontrar uma dona consciente estão a gatinha Olívia e a irmã, ainda sem nome. Daniele, que as adotou, diz não concordar com a venda de animais. "Seria a mesma coisa que vendermos um filho ou um dos nossos irmãos", compara a atendente, enquanto segura carinhosamente os filhotes. Sobre a escolha das gatas, ela confessa: "Me apaixonei pelas duas".
No caso de Helen também foi paixão à primeira vista pelo cão de pelagem clara, resgatado junto da mãe e irmãos em um canil de Jaguapitã (46 Km ao norte de Londrina). "Ele foi o único da ninhada que veio comigo logo de cara". A estudante revela que no passado já teve animal comprado, mas que hoje não consegue ser indiferente aos bichos abandonados. "É muito triste", resume. Para Helen, o fato de Valentino não ter raça definida não importa, e sim o encantamento que ela e o namorado, o também estudante Thiago Barossi, sentiram pelo novo companheiro.
Na casa de outra estudante, Alana Cantizani de Oliveira, o tipo de pêlo, cor, tamanho e outras características também não importam. Pelo quintal e cômodos internos da casa transitam oito cães e quatro gatos. Com exceção de Júlia, uma dálmata de 10 anos que Alana ganhou, e de Lara, uma mestiça de pinscher nascida em sua casa, todos os outros foram recolhidos da rua, em situação de risco. "Vejo muitos animais abandonados, mas não tenho condições de trazer todos para casa, dou preferência para filhotes, mães com cria ou aqueles muito velhos, que precisam de mais cuidado", diz a estudante de Zootecnia.
Alana é a chamada protetora, que recolhe o animal temporariamente como forma de salvá-lo, cuida, alimenta e tenta encontrar um novo lar pra ele. Mas nem sempre isso é possível, e os bichos acabam ficando. "O problema é que cada um que não consigo doar, é uma a menos que vou poder salvar depois, por falta de espaço e condições financeiras".
Todas as despezas com a bicharada , incluindo ração, remédios e tratamentos, são bancados pela mãe da estudante, que é secretária executiva. "A única ajuda que tenho é de alguns veterinários que conheço, que dão desconto para as cirurgias de catração e isenções de consultas", explica Alana, que nunca parou para contabilizar o gasto mensal. Ela lembra, porém, que muitas vezes ela e a mãe têm de abrir mão de comprar coisas pra si, como roupas, para bancar os imprevistos, entre eles os tratamentos médicos.
Alana é do tipo que perde o sono se vê um animal abandonado, e diz que nunca pensou em comprar um bicho na loja. "Acho horrível vê-los lá, presos em gaiolas. Talvez aceitasse comprar apenas para poupá-los desse sofrimento."
Serviço: Mais informações nos sites
www.sosvidaanimal.org.com.br e
www.gappr.com.brSilvana Leão
Reportagem Local
FONTE:
Bonde News - Folha de Londrina
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